Carta de abril de 1975 – Escrita por Bruno Reckziegel

Carta de abril de 1975 – Escrita por Bruno Reckziegel ( 8358 Vilshofen –Klophingerstr. 5)

Gregório Zotz – Tradutor Público

Observações gerais sobre a história da Família Reckziegel

 

Procedência das Famílias e dos Sobrenomes

A maioria dos sobrenomes mais antigos das listas de antepassados de Johannesberg e das localidades vizinhas, procedem dos domínios mais antigos de Friedland e Reichenberg. Nossos antepassados povoaram desde aí a serra inóspita de Isergebirge que, em 1600 ainda era uma verdadeira mata virgem. Eles não vieram sob a orientação de locadores de regiões menos montanhosas que já estavam habitadas e isoladamente para as novas aldeias. Aqui atuaram principalmente os Condes Desfours de Mont e Athienville, (que receberam o domínio Rohosetzer em 1628 de Wallenstein como penhor por soldos atrasados), em meiados e fins do século 17, como fundadores. Nesta oportunidade deram nomes a muitas localidades: Grafendorf = Aldeia do Conde (conforme o título de nobreza dos senhorios), Dessendorf = Aldeia Dessen (de Desfour), Maxdorf = Aldeia Max ( do Conde Maximiliano) Josefsthal = Vale de Joseph, e Karlsberg = Morro de Karl (do Conde Karl Desfours), Albrechtsdorf. (Geografia Regional do Distrito de Gablonz na Boemia)

Na relação de impostos ou juros de Friedland, de 1381 havia os seguintes sobrenomes na grafia atual, que também são encontrados nas famílias de Johannesberg:

Bergmann, Dressler, Fischer, hoffmann, Hubner, Jantsch, Kohler, Kleinert, Krause, Lang, Lindner, Muller, Neumann, Prade, Priebsch, Seibt, Seidel, Scholze, Schulz, Vogt, Wagner, Weiss, Wunsh, Zenkner (Cf. Dr. E. Bergmann, Crônica da Cidade de Johannesberg, página 44).

Outros nomes antigos de Reichenberg e adjacências em 1650 são: Appelt, Dressler, Endler, Geissler, heidrich, Horn, Jager, Just, Kaulforsch, Keil, Klamt, Konig, Kretschmer, Lammel, Ludwig, Meissner, Opitz, Preussler, Pilz, Pietsch, Richter, Schaufler, Ulmann (anuário da Sociedade Montanhesa Alemã 1910).

 

O Sobrenome Reckziegel

Primeiras denominações

Nas antigas fontes de estudos de famílias de Isergebirge, o nome Reckziegel não é encontrado. A primeira denominação definitiva encontra-se no registro de multas de Reichenberg de 1569, volume 63. Ali consta: “Recebido de Wulf Ruckenzugell, o qual jogou um panela na cabeça de Jacob Herferteen, como multa, o valor de 25 Groschen”( naquela época uma multa em dinheiro bastante substancial, considerando os rendimentos reduzidos; observação do autor).

Outras denominações são encontradas na lista de impostos do Domínio de Kleinskal de 1608 (Publicação de J. Meissner em “Nosso Isergebirge”, continuação 17) de acordo com a qual reside em Gistei/Schumburg um Sr. Nikolaus Rebrik.

No registro de Imóveis de Gablonz de 1618, página 330, consta em Lyskow e na página 342 em Gistei, sem indicação de ano, um Sr. Kaspar Reckziegel e na página 346 um Sr. Matousch Reckziegel.

O mesmo nome e também um Sr Christoph Reckziegel constam de acordo com a mesma fonte nas páginas 261 e 256 e Seidenschwanz.

Na lista de Impostos de Kleinskal de 1608 são citados como devedores de impostos um Sr. Balzer e um Sr Wolf Rokrikem ,Lautschnei, que foi fundada pouco antes de 1608.

Como, de acordo com o registro de imóveis de 1648, pág. 178 um Sr Balthasar Reckziegel paga um terreno ao seu pai em Lutzney, o Sr J. Meissner admite com razão, que se trata, no caso dos Rebriks e Rokriks, de Reckziegel. E. Bergmann (pág. 16) concorda com isto. Nas suas pesquisas sobre famílias ele adquiriu experiência de que os escrivães tchecos muitas vezes deturpavam extraordinariamente os nomes de famílias alemãs, “quando não conseguiam comparar mentalmente tais nomes com alguma expressão tcheca”. Rokrik, nesta forma, também nas significa; deverias ser Rohkrik, o que, em alemão, significaria mais ou menos “Hornlaermer” “Hornschreier” (o que faz barulho com uma trompa).

Permitam-me aqui uma pequena digressão divertida: O Dr. Bergmann contou-me neste caso, que encontrou nos registros da Matriz de Altliebenau um casal Kotfryd Kalferz e Salmine Mlenarcz, que, na composição dos parentescos se revelaram como sendo Gottfried Kaulfersch, sendo que Salmine não era solteira Glasarsch (nádegas de vidro) mas Glaser.

Além disso, é preciso considerar que os escrivães no início do século 17, devido as conturbações da Guerra dos Trinta Anos, eram mal preparados e a ortografia ainda era manejada a bel prazer, sendo que a inclusão de nomes nas listas de impostos era feita de acordo com as indicações de pessoas analfabetas e de pronúncia peculiar, e ainda desdentadas. Os escrivães além disso, anotavam geralmente os nomes em bilhetes, de onde eram depois transcritos nos documentos por outros escrivães, ocorrendo então erros de cópia. Com tantas fontes possíveis de erros, não é de se admirar a deturpação de sobrenomes nas fontes de informação antigas e não deverá perturbar o pesquisador.

Interpretação de nomes

É difícil realizar uma pesquisa de famílias sem interpretaçào do nomes. Por isto, façamos uma tentativa para examinar algumas interpretações do nome Reckziegel até agora conhecidas. A maioria das tentativas de interpretação do nome incluem ao mesmo tempo a procedência ou a descendência da família Reckziegel, as vezes um pouco rodeada de mistério e lendas. Algumas delas aqui mencionadas:

  • que Reckziegel procede de Reck-siegel (informação do Sr F. Reckziegel, Wurzburg), visto que os portadores do nome parece que eram oficiais suécos que chegaram a Isergebirge na Guerra dos Trinta Anos, com o nome de Recke. Como portavam um sinete (Siegel) foram denominados de Recksiegel.
  • Outra interpretação deriva o nome de Rexilius, o “Real”, um soldado desertado da Guerra dos Trinta Anos das tropas (reais) francesas. (informação do Sr R. Reckziegel, Fichtelberg).
  • Cumpre dizer que ambas as formas escritas do nome existiram. Ambas as interpretações baseiam-se fortemente na descrição da fundação de Johannesberg conforme livro de Memórias do Padre Feix da igreja de Johannesberg. Sobre isto darei mais tarde maiores detalhes.

A interpretação que me parece a mais provável, referente a primeira das denominações acima, e com base etimológica, foi dada pelo conhecido pesquisador de terra natal e mais tarde Prefeito de Gablonz, Dr Karl R. Fischer (informação do Dr E. Bergmann) o qual deriva o nome Reckziegel de “Röcknzügel”( Zügel = rédeas) dos animais de tração, apesar de que naquela ocasião o Registro de Multas, Volume 63, ainda não havia sido publicado. A primeira denominação “Ruckenzugell” lhe daria razão.

O Dr Erhard Bergmann que, entre outras atividades qualificou-se seguramente como pesquisador de idiomas (filólogo), com a publicação de um dicionário de dialetos para a comarca de Gablonz, chega à conclusão que o nome Reckziegel procede da região do Sul da Alemanha porque, naquela época, só eram usuais os nome bíblicos ( Kaspar, Balzer, Christoph, Adam, ect) enquanto que um nome como Wulf era desconhecido – a abreviação Wolf de Wolfgang é habitual no sul; outrossim, a letra “ü” entre “r” e “ck” ainda hoje em alemão clássico no Sul ainda é “u”.

Que também os alemães naquela época não sabiam o que fazer com o nome Reckziegel, prova um citação do nome em 1636 na crônica da família Schurer de Waldheim (Karl R. Fischer, “os Schürer de Waldheim” página 67) onde Bartholomäus Schürer de Wlaldheim, mestre de Fundição em Grünwald próximo a Gablonz relata: “com referência ao ano de 1635, em dezembro e Advento, fui para Reichenberg com minha mulher e as crianças, ou seja, minha filha Anna, meu filho Hans, minha filhinha Rosina, devido ao grande perigo de guerra, assaltos, pestes e a doença principal (= o tífo, observação do autor)… No 3° advento fui para Grünwald e visitei a minha casa saqueada, recolhendo o que estava espalhado na neve devido ao saque, para ser trilhado na primavera, conseguindo várias arrobas de aveia. De resto minha plantação estava completamente perdida. Depois da minha mudança a Reichenberg, tive que permanecer várias semanas com minha família em Lautschney com Baltzer Rockdiegel. Na quermesse de Grünwald ocorreu a invasão. Quem podia correr, conseguiu salvar-se. Mas poucos puderam levar alguma coisa. Eu, minha mulher e meus filhos não conseguimos levar nenhuma roupa, foi miserável, arrastando-se pela floresta. Deus nos guarde….”

Esta citação está sendo reproduzida tão detalhadamente, por quanto mostra que a Guerra dos Trinta Anos também nos confins de Isergebirge não se deteve, com sua fúria.

Procedência da Família Reckziegel

É certo que os Reckziegel não procedem do Norte, nem da França ou da Hungria, como às vezes se suspeita. Trata-se certamente de alemães. Pelo que se observa do acima dito, o lugar de procedência deve ser a região do sul da Alemanha, talvez Áustria, onde consta que existem famílias Reckziegel em vários pontos (estas pistas ainda serão seguidas).

De qualquer modo, deve tratar-se de uma imigração para Isergebirge, somente depois de 1500, porquanto nem a Lista de Impostos de Friedland de 1381, nem o registro de habitantes de Reichenberg, de 1550, nem o livro de Estirpes da Paróquia de Alt-Liebenau-Langeenbruck, (Dr. Bergmann), menciona este sobrenome. Esta tese é reforçada pelo fato que os lugares de colonização inicial Gistei e Seidenschwanz somente depois de 1550 foram novamente habitados (Lilie, Comarca Política de Gablonz).

O que se refere à suposição que surge às vezes, de que os Reckziegel sejam de procedência nobre ou equivalente, devo negar, com base no acima exposto. Pode-se entretanto, supor que se trate de famílias livres e não súditos, porquanto estes últimos dificilmente eram liberados pelos seus senhorios para seguir para outros domínios.

O próximo relatório tratará do primeiro morador de Johannesberg, Johann W. Reckziegel, que deu o nome a esta localidade.

Obs: recebi esta carta do Sr. Roque Reckziegel em 2001, que por sua vez a recebeu do seu pai Sr. Estanislao Reckziegel (1975-76)