Reckziegel e Lauschner

Info. Históricas


Ricardo Reckziegel

Ricardo, o nono dos filhos de Franz e Aurélia Reckziegel, neto de Wenzel Reckziegel com Emília Seibt e Johann Hosda com Genevefa Rösler, nasceu em17 de dezembro de 1903 na localidade de Sampaio, município de VenâncioAires-RS, onde também viveu toda sua infância. A exemplo dos demais irmãos, foi educado numa família onde se cultivava uma fé convicta, onde a religião marcara profundamente os hábitos e costumes e onde se irradiava para a comunidade os princípios de lideranca norteados pela doutrina do cristianismo. A educação não se restringia a incutir nos filhos hábitos bons e saudáveis mas procupava-se sobretudo em dar-lhes uma formação adequada para poder enfrentar a vida com um espírito empreendedor e de liderança. Correspondendo ao desejo de seu pai, também Ricardo estendeu sua formação para além da escola primária de Sampaio complementando-a com estudos adicionais no Colégio Marista "São José" de Lajeado. Desde cedo revelou seu pendor para a atividade comercial, ocupação que assumiria mais tarde quando, ainda solteiro, estabeleceu-se, em sociedade com seu irmão mais novo, José, com uma casa comercial que ambos haviam adquirido da família Krämer, da localidade de Palanque, também no município de Venâncio Aires. Começaria aí a materialização de um sonho que alentava há muito tempo. O entusiasmo desta conquista inicial trouxeram o ânimo e as forças necessárias para a superação das dificuldades que começavam a somar-se paralelamente às realizações que iam sendo contabilizadas. As preocupações com a comunidade, onde sua liderança já se revelara, adicionariam mais uma tarefa que não poderia ser negada.
Em 1925, ao casar-se com Fridalina Bohn, filha de Bernardo Bohn e Paulina Dellawald, natural de Boa Esperança no município de Lajeado, daria o primeiro passo para estabelecer a união que resultaria numa família de 10 filhos. Prover as necessidades não só materiais mas também as espirituais de toda esta numerosa prole acresciam-lhe mais trabalho, mais dedicação. Investiu muito na família fazendo com que seus filhos tivessem também a oportunidade de uma formação mais apurada, para além da escola primária. Sempre com o apoio decidido e firme de Dona Frida, como era carinhosamente chamada, mesmo após desfazer a sociedade que mantinha com seu irmão, José, conseguiu incrementar seus negócios adicionando às suas atividades o transporte da produção agrícola e instalação de um posto d eesterilização e comercialização de fumo em folha. Aos poucos passou a juntar forças oportunizando o ingresso de alguns filhos na sociedade que então constituiu.
Os negócios continuaram florescendo. Estes, aos poucos passaram a ser comandados pelo filho mais velho, Cláudio, que deteve a direção dos negócios até a sua morte prematura, em 1972. Orlando, o caçula, assumiria então a função do falecido irmão Cláudio. A crise econômica que se instalara no país a partir dos anos setenta, lentamente começou a corroer as bases sólidas da empresa que Ricardo havia construído com tanto esforço. Ainda viveu para ver as ruínas daquilo que um dia fora seu sonho.
Já viuvo, sua esposa partira para a eternidade já fazia muitos anos, apoiado numa fé profunda em Deus e, na crença de que apenas os bens espirituais capitalizavam dividendos para a outra vida, superou com firmeza a derrocada daquilo que construíra com tanta dedicação no terrenomaterial.
Ricardo, já se disse isso anteriormente, era um homem de negócios, mas também era um líder comunitário. Era uma pessoa bem informada, que não dispensava a leitura diária do jornal. Zelava, em tudo, pelos interesses da sua comunidade, chegando a representá-la na câmara de vereadores deVenâncio Aires. Batalhou junto às autoridades eclesiasticas para que se instalasse em Palanque uma sede paroquial pleito que terminou logrando êxito. Junto à Igreja assumiu várias encargos tanto na Diretoria como na prestação de serviços. Jamais poupou esforços ou haveres materiais quando se tratava de auxiliar as obras da Igreja, principalmente no campo vocacional, financiando o estudo de candidatos ao sacerdócio, entre os quais se encontrava o atual Cardeal D. Aloísio Lorscheider, hojeArcebispo de Aparecida - SP. Badalava regularmente o sino nos horários do meio-dia, da Ave Maria e também chamando o povo para os cultos e missas. Aos domingos, na ausência do padre, coordenava os cultos. Manteve este hábito enquanto suas forças o permitiam. Estas, aos poucos o abandonaram em decorrência da evolução de uma câncer pulmonar, que o levaria à morte aos 82 anos de idade. Conviveu, durante 39 anos, em feliz união com "Dona" Frida que o secundou em tudo que se relacionava à família e à comunidade. Ela era uma pessoa simples, mas prática. Sabia buscar seu espaço de atuação. Já naquela época quando ainda não se evidenciava de forma tão ostensiva a participação das mulheres, principalmente do interior, em eventos e concentrações, Frida participava com freqüência de retiros e Congressos. Um exemplo foi sua participação, em 1948, no Congresso Eucarístico Nacional, em Porto Alegre. Trazia como marca o zelo pelas vocações sacerdotais e religiosas. Apreciava ler e contar histórias, era alegre e passava o dia a cantarolar ou assobiar enquanto executava suas tarefas domésticas, vistoriando as plantações e a criação de animais. Tinha um cuidado muito especial com seu quintal, horta e jardim, este, sempre florido. Entendia da arte culinária e administrava sua cozinha zelando sempre para evitar o desperdício, transformando em conservas tudo o que poderia ser aproveitado no futuro.Trazer ao mundo seus 10 filhos não lhe foi uma tarefa fácil já que seus partos sempre se mostraram difíceis. Problemas cardíacos gerados pela hipertensão a levaram a uma morte precoce aos 58 anos de idade. A comunidade de Palanque tributou-lhe uma homenagem póstuma dando o seu nome, "Frida Reckziegel", à Escola Estadual da localidade que ajudou a construir e onde viveu.


Franz Reckziegel

Em uma crônica, "SAMPAIO - ZUM 50-JÄHRIGEN JUBILÄUM", que evoca recordações dos primeiros 50 anos vividos no Brasil e é o próprio Franz,ao ensejo da comemoração do cinqüentenário de Sampaio, em 1923, que nos conta algumas vivências que vão desde a motivação para emigrar, passando por citações relativas à longa viagem empreendida, a chegada ao Brasil, sua instalação na nova pátria e as peripécias enfrentadas para ordenar os trabalhos, a vida familiar e comunitária em uma região onde antes existia apenas mata virgem. A resolução para emigrar teria sido tomada após o recebimento das primeiras cartas, recebidas daqueles que já havia migrado em 1872, e que mostravam relatos positivos acerca do Brasil. A longa viagem certamente constituiu-se numa aventura para um jovem de 13 anos, como era o caso de Franz, na época. Berthold Stöhr, companheiro de viagem de Franz, então com 14 anos, detalha-nos na crônica atrás citada algumas vivências experimentadas naquela oportunidade. Após o embarque no navio "Santos", no porto de Hamburg, teria havido apenas uma parada, esta em Lisboa - Portugal, para reabastecer o navio com carvão e para o desembarque de algumas pessoas. Conta-nos o jovem Berthold:
"Em Lisboa, pela primeira vez na minha vida, vi pessoas de cor que, em canoas, fervilhavam à volta do nosso navio. Alguns vendiam frutas eoutros transportavam os passageiros que ali desembacaram. Estes eram disputados com tal intensidade a ponto de expô-los ao risco de um banho involuntário. Meus irmãos e eu olhávamos saudosos para aquelas frutas bonitas mas, para que não houvesse grandes perdas materais no caso deafundamento do navio, já haviamos gasto os nossos últimos "Kreutzer"(cruzados) no Porto de Hamburgo."
A partir daí, após de 36 dias em alto mar, em uma viagem pouco aproveitada por causa dos enjôos tiveram o primeiro contato com terras brasileiras, no porto de Rio Grande. O embarque para Porto Alegre foi alguns dias mais tarde onde chegaram em 6.9.1873. O vapor que os trouxe veio apinhado de pessoas, assim visto por Berthold:
"Já no navio "Santos" vínhamos prensados como sardinha mas neste era pior, pois dormíamos em pé".
Até que fosse decidido para onde seguiriam os diversos grupos houve também uma parada de alguns dias. Sabendo-se próximos do destino final pois haviam optado pela região do Taquari, embarcaram contentes e animados num vapor. A bordo deste, conta Berthold, a viagem foi agradável, pois, a convite e com a anuência do comandante, puderam entrar na cabine onde havia apenas uns poucos passageiros.
"Foi um momento de descontração, pois havia entre nós cantores e contadores de piadas - conta o nosso jóvem repórter - que agradeceram dessa forma a gentileza do convite".
Em Taquari, onde foram bem recebidos, puderam experimentar pela primeira vez a comida que breve seria para eles o "feijão nosso de cada dia". Já não havendo mais dinheiro no bolso, pois a maioria já havia gasto toda a sua economia, foi necessário vender alguns utensílios para poder prosseguir. Um vapor menor os deixou em Estância Mariante. Aqui, o que os teria levado a compreender a expresão portuguesa, "paciência", foi mais um tempo de espera até o embarque, em carretas de boi, para a então"cidade" de Venâncio Aires que na época contava com poucas casas, duas das quais eram de comerciantes e uma ocupada pelo administrador regional das terras, um tal sr. Richter. Em princípio todos os recém chegados estavam destinados para a região de Linha Isabella por serem estas terras do governo com o que não houve a concordância de alguns que preferiram a região de Sampaio. Aqui as terras eram melhores, porém de propriedade particular e precisavam ser adquiridas, compra que conseguiram negociar a prazo. Quem nos conta agora é mais uma vez o próprio Franz:
"Cada imigrante, eram 7 famílias, assumiu uma colônia ao preço de600$000 (seiscentos mil reis) tendo um prazo de 5 anos para pagar".
O atraso na medição das terras e também as constantes chuvas teriam empurrado o início do desmatamento, queimadas e plantações para ocomeço de 1874, quando construiram sua primeira choupana para onde se mudaram em 2 de fevereiro.
"O problema eram os víveres, conta-nos Franz. Martin Kroth supriu-nos com 2 sacos de feijão e assim nossa alimentação, até novembro daquele ano foi feijão, abóbora cozida, nabo e um pouco de farinha, tudo sem banha. Um acolheita de boas batatas afastou as preocupações de penúria. No verão de1874-1875 tivemos safra muito boa de fumo que atingiu 156 arrobas e recebemos 4$500 Rs o que deu para pagar o armazém, saldar as dívidas restantes e comprar o essencialmente necessário. Uma vaca custava, na época, 35$000 e um cavalo compramos por 30$000 e arreios por 16$000, como qual nós próprios podiamos cavalgar até o moinho, passando a ter o pão que antes raramente tínhamos."
Sabemos que Franz era apenas um jovem de 13 anos quando aqui chegaram. Não obstante isso foi obrigado a dar uma ajuda firme no desmatamento e preparo da terras para as primeiras plantações. Cedo aprendeu a manejar o facão, o machado e a foice. Faltava-lhe, como de resto também aos adultos, a experiência para as lides da derrubada de árvores dentro do emaranhado de cipós que existia na mata virgem. Isto quase custou a vida ao nosso ainda pequeno imigrante quando, tentando esquivar-se de uma árvore que tombava, ficou preso com os pés no cipoal e caiu. O pai,Wenzel, só teria conseguido tirá-lo debaixo da árvore com a ajuda de vizinhos. Felizmente as lesões sofridas não foram tão graves e o rapaz teve uma rápida recuperação. Com a idade de 19 anos resolveu aprender um ofício e partiu para um curtume em Venâncio Aires onde, durante 2 anos,lhe ensinaram a arte de curtir couros, porém sem qualquer compensação financeira pelo trabalho que realizava. Seguiram-se mais 6 meses com uma pequena remuneração mas que não compensava o que fez que voltasse às lides agrícolas, na casa paterna. Lá, após o pai ter-lhe disponibilizado um terreno, passou a instalar, com muita dificuldade e aos poucos, o seu próprio curtume. Devagar e quando os impecilhos, como falta inicial de couros e resina (tanino) apropriada para curtição, esta extraída de árvores, foram superados, sua indústria deslanchou.
Foi aí que Franz começou a sentir-se seguro e capaz de ele próprio constituir sua família. Encontrou para isso a parceira ideal na pessoa d ajovem Aurélia, filha de Johann Hosda e Genovefa Rössler, natural dePsichowitz - Boêmia, que emigrara com sua família para o Brasil em 19.5.1876, embarcados no navio "Buenos Aires". Casaram-se na Igreja deVenâncio Aires ( ver registro de casamentos da paróquia de Santa Cruz doSul, livro3, fls 16) no dia 30.9.1883, casamento este que seria abençoado com a vinda de 12 filhos dois dos quais, Ema e Eduardo, falecidos quando ainda crianças. Além de uma grande dedicação ao trabalho e família, Franz sempre mostrou-se extremamente responsável pelos rumos da comunidade. Liderou a comissão de construção das duas capelas, a primeira, em 1898, e a atual, vinte anos após. Na ausência de padre presidia os cultos dominicais. Extremamente preocupado com a educação e cultura, não mediu esforços para que seus filhos tivessem uma boa escola. Todos dominavamas duas línguas, alemão e português, e tiveram a oportunidade de complementar seus estudos em algum colégio regido por religiosos.(Fontes: "Sampaio, zum 50-Jährigen Jubileum - 1873-1823", -
"Aus Grossvater Wenzel Reckziegels Zeiten(HugoReckziegel-St.Michaelsblatt, 15.10.1958). - Crônica não subscrita, presumivelmente da autoria de uma neta, filha de Hugo Reckziegel, edepoimentos pessoais colhidos.)2 _SSHOW Y


Aurelia Hosda

2 _SSHOW Y